terça-feira, 10 de dezembro de 2013

GUERRA DE ALMAS TORCIDAS - FUTEBOL E VIOLÊNCIA

As lamentáveis imagens protagonizadas por uma centena de bárbaros no último dia 08 de dezembro, durante uma partida de futebol entre clubes do Paraná e Rio de Janeiro, num Estado sulino, tem servido para rechear noticiosos do mundo todo com o que temos de mais cruento em nossa condição de insegurança social. Demonstração de geração falsamente espontânea de um mal repentino, de fúria de massas, de intolerância e de estupidez, de ódio, de violência gratuita, de truculência.
Para quem não teve a oportunidade – ou estômago - de assistir tão indigestas cenas, eternamente perplexo, de memória, carrego horríveis flashs: grupos reunidos em deliberados massacres a contendores caídos, alvejando suas cabeças com clavas e pisões insanos, com o propósito literal de esmagá-los; caídos e inconscientes, rivais sendo despojados de suas roupas; e já desfalecidos, não eram poupados dos incessantes e intensos golpes aplicados com total energia.
Num jogo de empurra-empurra, órgãos públicos, entidades esportivas, clubes e polícia se eximem de culpabilidade inculpando uns aos outros.
Foi uma guerra de torcidas. Entenda-se: um pessoal com alma distorcida.
Um grupo de maníacos. Sim, uma geração de doentes, porém não mais que o eco do que vimos presenciando incontavelmente no cotidiano da violência em todos os seus horrendos matizes, por todo canto, sejam habitats urbanos, meios rurais, estádios de futebol; estejam seus agentes disfarçados de torcedores, grupos de vândalos pretensamente libertários; sejam malfeitores assumidamente criminosos.
Somou-se às inumeráveis cenas diárias de horror, triste e perigosamente banalizadas, em caminho de uma aparente normalização em nossos corações e mentes.
Qual o motivo, afinal de contas, dessa carnificina? São muitos, com um único efeito psicossocial: permitir que grassem tipos assim violentos: impunidade, falta de educação social, distribuição perversa de renda e oportunidades, e uma cultura tantalizante de consumo. Ora, as psicopatas não brotam do chão!
Cadeia, só? Será que resolve? Pena de morte? Deus o livre! - não há. Radical e temerário que pareça o desejo de extirpar tipos tão execráveis, o fato é que não inspira mais a menor fé que seres tão brutais como esses se resolvam por encarceramento ou em programas socioeducativos.
Mais trágica é a certeza de que, seja pela extinção dos criminosos indigitados ou seu isolamento do corpo social - e ainda que nossos esforços prevencionistas e mecanismos de justiça e polícia se apurem doravante - a reprodução de mafiosos facínoras desse naipe não cessará.
Não, o futebol não é só um esporte, como alegam uns, em favor do sistema desportivo, atribuindo o problema à má índole de um grupelho ou supondo ter havido apenas um acidente, um fato isolado. Deveria ser apenas um esporte, mas não é.
O futebol não é só um esporte, segundo o que fizeram dele os mesmos cínicos defensores do lucrativo negócio, que negligenciam aspectos de segurança durante encontros de grandes multidões antagonistas.
O futebol, um dos mais eficazes instrumentos de manobra de massas, é uma indústria altamente rentável elevada à condição de quase religião, cuidadosamente cevada por uma aparelharem política e midiática, que, por falta de uma democracia cultural e da inexistência de sentimentos mais nobres de pátria e amor-próprio, é oferecida por gente do entretenimento como conforto espiritual infalível a uma turba deseducada e brutal, carente e adoecida, um câncer metastático no meio de gente saudável.
Não é à toa que torcedores entoam com esmero o hino de seus clubes, enquanto a maioria de nós não sabe na íntegra o hino nacional; que se persigam carreiras e vidas de atletas com sofreguidão de paparazzi; que os atores faturem milhões e os espetáculos movimentem recursos estratosféricos; e que saibamos um escrete de cor e salteado quando nem mesmo nos lembremos do nome do candidato de escolha nas últimas eleições.
Não é só o futebol, não. Tem mais instrumentos na orquestra: telenovelas, programas de auditório, igrejas, jogos de azar, música ruim e drogas de todo tipo (lícitas ou não). Mas estes entorpecem. De todas as cortinas de fumaça da desgraça, com efeito, o melhor cenário para a liberação mais expansiva de ódio e crueldade, tem sido o espetáculo do futebol.

Triste! Triste! Porque o futebol, embora envolvente e apaixonante, é tão somente um jogo, enfim!

GRACIAS ANDINAS