quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Poetizar

Poética: síntese e meio,
instrumento, verificação,
acepipe de recheio,
ato ideal de razão.


Quem compra as realidades vãs
como acerto não duvidoso,
Achega-se logo em cãs;
Arrojado, oco, tenebroso...


A glória do homem reside
na apropriação de todas as luzes,
no carregar de suas próprias cruzes.


Se a si, nas ciências e nas artes, assim se louva,
Não desmerece homenagem também
Ao Potente Criador. Amém!  

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Amar hoje

Com os netos ao pé de si, os mais crescidos juncando o assoalho lustroso e os outros aconchegados no colo, ele contava a história, enquanto na cozinha sua mulher, arqueada nos anos, mexendo a massa do bolo, passeava em cada fonema da sua voz. Os filhos – vendo impossível impedir a narração imprópria para as crianças - compartilhavam daquela delícia, discretamente encostados nos batentes das portas, sentados nos umbrais, ou debruçadas nos peitoris das janelas amplas da casa recém adquirida, presenteada ao casal pelas bodas de diamantes.
Narrava:
A beldade estacou ao ouvir a pergunta daquele amante fortuito, interrompendo instantaneamente as massagens que lhe fazia. Haviam se amado já duas vezes. Tinha duas horas que estavam juntos.
Encontraram-se num esbarrão de acaso, sob a marquise do restaurante caro onde ela, linda e irresistível, costumava investir a exuberância sobre a lascívia de engravatados e playboys ociosos. - Momento aquele, aliás, muito oportuno, pois rendeu negociação bem mais simples do que normalmente requeriam os sofisticados assédios com que seduzia a requintada clientela: os efusivos cumprimentos ao empertigado gerente - que ela repugnava, mas a quem devia uma paga mensal pela acessibilidade -; as gorjetas dos afortunados garçons; a bebericação em taças de vinho – que embora odiasse, supunha compor a postura correta do lugar -; as poses e trejeitos, o porte e maneiras, as conversas enviesadas, incompletas, de mau gosto e nenhum interesse, até a revelação da sua obviedade.
Raro era regatearam o preço e sentia-se livre. Por isso preferira ali, a casas especializadas ou às calçadas.
Foi um encontra acidental, quando o homem acabara de passar a porta giratória, e ela, por distração tola – talvez com a maquiagem retocada pouco antes, que se havia transtornado por causa dos beijos (excepcionalmente cedidos) durante um rápido atendimento matutino -, embateu-se de corpo inteiro, desequilibrando, ensejando que o vexado cavalheiro a segurasse virilmente e sentisse a firmeza torneada de suas carnes.
Todo o depois se desenrolou sem embaraço. O homem, elegante e educado, porém prático e experiente, amavelmente dispensou qualquer artifício.
Agora estavam no quarto do apartamento de nababo, no hotel, nus e perfilados.
A mulher desatou no choro. O homem, vendo tamanho sofrimento sem o que justificasse, emendou:
- Não peço que seja apaixonada por mim ou que tenhamos filhos; nem mesmo que faça amor comigo sem que tenha vontade. Quero apenas que me deixe te amar.
- Por quê? Não nos conhecemos, você não sabe minha história... Como...? Eu nem sei quem é ou quê é você! Você é maluco ou coisa assim? – simultânea, sua vida se apresentava veloz: a cidade sem futuro, os pais desesperançados, a fileira de irmãos, a escolinha, o primeiro namoro, os outros namoros, as decepções, a orfandade, as companhias, os sedutores, o primeiro dinheiro, os amantes, os quartos... Aquele quarto.
- Que diferença faz? Ainda que vivamos juntos pela eternidade jamais saberemos, de nós mesmos, quem realmente somos. Importa, hoje, teu jeito, teu cheiro, tua voz, tua sombra, tua cor, teus erros e acertos, tuas hesitações e medos, teus pensamentos e atitudes... Teu tudo me faz te amar no hoje – e as lembranças passaram num modesto jorro: a secura de alegria na infância, o hiato da existência, as primeiras cãs, aquela mulher.  
À noite, ao se deitarem, a mulher repousada em seus braços pediu que ao menos mentisse a respeito da vida que tivera, pois, mesmo que ninguém soubesse, sentia-se constrangida. Ele a abraçou forte: “Importa o hoje, o teu tudo me faz te amar”. 

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Despedida de craque

Hoje, Ronaldo Fenômeno deixou oficialmente os gramados. Já o havia esvaziado das lindas jogadas e dos lances sobre-humanos que o fizeram, três vezes, o melhor jogador de futebol do mundo: as explosões, os dribles e os gols impressionantes. Merecidos títulos, aliás, que o enfileiraram no panteão dos atletas eternos.
Em vez de dizer do grande jogador que ele foi, das suas conquistas, prefiro falar sobre outros aspectos.
Foi despedida falada, chorosa, lacrimal, sem espetáculo, sem apoteose.
Duas coisas importantes, todavia, destaco nessa atitude do craque - além do homem que enriqueceu com o futebol e que aos trinta e poucos anos, cansado e adoecido, decidiu se aposentar; depois de alguns escândalos - acontecimentos banais da vida, cuja repercussão serviu mais à vendagem dos pasquins marrons do que para alguma pesagem moral; frustrado por não ter atendido ao investimento emocional de uma numerosa torcida difusa; desencantado com o fim... que um dia chegaria... e chegou, grosseiro,  subvertendo, engolindo a realidade, transformando o mundo, contrariando seus desejos e baldando seus esforços.
O primeiro aspecto é da transitoriedade de qualquer carreira, seja de jogador de futebol, astro de televisão ou cinema, escriturário, gari, recepcionista ou caixa de supermercado, enfim, de qualquer atividade, glamourosa ou não: tudo passa amigo! Mesmo que não consigamos auferir riqueza material do trabalho que fazemos durante a vida, ele, como a própria vida, passa.
Ronaldo demonstrou, entretanto, que o desligamento (ainda mais inopinado, na contramão da vontade), embora muito difícil, deve ser encarado com paz, com resignação. Que nos alente ao menos nossa história pessoal, porque mesmo a dele, cercada de tanta glória e assédio, um dia somente para ele fará alguma diferença substancial.
É isso! Devemos nos orgulhar de nossa história e construí-la com carinho e amor-próprio, com elevada auto-estima. Um dia a nossa história será a mais recorrente nas nossas lembranças. Com ela nos nutriremos de um ponto até o fim, e faremos dela a razão de termos vivido; nossa missão por assim dizer.
A outra coisa que notei: humildade. Não, não destoa do milionário ex-jogador, posto que afirmem os maus intérpretes do comportamento humilde, que o confundem com a ignorância ou a pobreza.
A humildade: a virtude que nos faz perceber nossa limitação; a reverência ao todo, de que somos pequeníssima parte; a simplicidade de entender que não somos mais que um sopro, uma sombra, uma luz que brilha intensamente, depois bruxuleia, depois se apaga.
Sem rasgos de defesa ou rompantes dos grandes feitos, o moço se desculpou, agradeceu, se despediu.
O planeta noticiou sua despedida. Eu agradeço a ele.
Continue firme Ronaldo, sendo um fenômeno, doravante em sua vida.
Deus te ilumine, campeão!

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

São Marcos

Depois do jogo Palmeiras e Corinthians - dois a um para o alvinegro -, o goleiro Marcos (do Palmeiras), apelando para o bom senso da torcida, repetiu o que vem dizendo há algum tempo: é só um jogo.
O que chamou a minha atenção (desconversado ou mornamente elogiado pelos apresentadores do programa pós-jogo) foi que o ídolo derrotado arrostou o que muita gente acadêmica e/ou política não ousa sequer sussurrar, nem em pensamento: por que essa gente toda não tem o mesmo ímpeto diante da ladroagem e das falcatruas nos subterrâneos e corredores do poder?
Parêntesis: nos dias que se seguiram, a julgar pelas conversas desimportantes do cotidiano, parece-me que só eu ouvi isso. Fique claro, no entanto, que Marcos não incitou ninguém à violência ou conclamou o povo à subversão. Fez apenas um comentário político, direito de qualquer cidadão comum.
Reforça a impressão que só eu tivesse ouvido o que o atleta disse, os eventos que a nossa imprensa divulgou nos dias seguintes, à guisa de notícias:
Nos EUA, a multidão celebrando algum sucesso esportivo, rodeava fogueiras como num rito tribal; de repente a bandalheira começou com saques e depredações até que a força policial dispersou, com muito custo, a turba desordeira;
Na Rússia, tal qual batalhões da antiguidade, duas torcidas postaram-se em ostensiva hostilidade de guerra, e resolutas, embateram-se duas vezes à exaustão e ao recuo de uma delas, para regozijo efusivo do grupo vencedor, que exultava como se tivesse vencido a um inimigo cruento que lhe ameaçava o território;
No Brasil, ante a bandeira do time rival desfraldada num andar discreto aos passantes, na janela de um incauto torcedor particular, um grupo exaltado vulnerou os portões e a paz dos pacatos moradores, levando-lhes o terror do vandalismo;
Dentre os tantos descalabros do homem, das três espetaculosas informações dos telejornais, duas (não tenho certeza quanto à baderna americana) se referem a grupos extremistas de torcedores de futebol... Futebol! Só um jogo...
Não é novidade e não tem nacionalidade. Torcedores argentinos e britânicos se notabilizaram pela euforia e truculência. Noutros países - veja o registro das reportagens - também existe essa doença.
Os episódios não foram o começo e não terão um fim tão simplesmente. A imprensa não se furtará a mostrar-nos os próximos eventos de violência e morte.
Há um elo perdido - ou talvez, quem sabe, uma característica não compreendida completamente: o homem é suscetível a paixões a ponto de desencadear uma fúria bárbara de massa, uma irracionalidade contagiante, uma animalesca rebelião sem sentido e sem causa louvável.
Uma religiosidade horrenda e fácil obseda o homem, se apodera e o envolve num fanatismo assombroso. Na massa, sem identidade, o indivíduo se torna um monstro amoral. Convertido em aberração, pervertido, ele destrói, vilipendia, depreda, lincha e mata.
O curioso é que depois tudo volta ao normal insosso: as praças silenciam e os agentes da bestialidade assumem seus postos de funcionários, pais, cidadãos com RG e CPF, contas e compras de crediário. Uma psicopatia coletiva ou uma resposta à pequenez e inferioridade que sentimos, ou que nos reserva a forma falida como temos vivido? Encerro aqui, e ainda bem que desacompanhado, à vista da raiva que dá o descaso com que conduzem a educação e a cultura, decepção que enerva ao ponto do que ora condenamos, Marcos e eu. 

sábado, 5 de fevereiro de 2011

Cartas de Iwo Jima

Um filme nipônico de Clint Eastwood, bonita fita de cinema com que nos brindou a televisão (SBT) no final de janeiro de 2011.
Filme japonês no centro da narrativa e nas feições do elenco, cujos figurantes ocidentais o eram pelo acaso da história, tão somente para ressaltar o desastre das más convicções - as que contrariam o amor-próprio e a preservação da vida, revogando-os ou relegando-os a uma somenos virtude questionável.
Iwo Jima é uma ilha do pacífico. Em 1944, na segunda guerra mundial, foi tornada um vulnerável baluarte da soberania imperial japonesa contra o avanço norte-americano, que a pretendia estratégico-militarmente.
Mais que um cenário árido de uma guerra cínica, foi o palco da agonia existencial de homens que oscilaram - a despeito de qualquer certeza que tivéssemos da sua firmeza de propósito -, não entre servir ou não servir ao imperador Hiroito, mas entre viver ou morrer pela devoção nacionalista, em detrimento dos anseios pessoais.
O general Kobayashi e o tenente-coronel Nishi eram respectivamente: um prestigiado militar diplomático em solo americano, a quem se oferecia o regalo dos grandes homens; e um campeão olímpico de hipismo que residiu nos EUA durante algum tempo, entre as personalidades mais emblemáticas do país. A estes, o peso de conhecer o mundo ocidental por dentro fazia recear o suicídio, fosse pela aparente galhardia da raça que negava entregar vivo um só homem sequer; fosse pelo auto-extermínio, suicídio ordenado para que ninguém se entregasse - ou seja: a vida não valia mais que o caráter valoroso e ostensivo dos soldados.
Para eles, porém, havia mais a perder que apenas a guerra.
Ambos transitaram nesse capítulo histórico como os comandantes maiores das tropas rotas, despreparadas e humilhadas por severos oficiais asiáticos, e de alguma forma, representavam a mitigação da disciplina oriental carregada de desprezo pelo indivíduo.
Esse abrandamento era influência da cultura contra a qual agora deveriam combater.
Demonstrações de fragilidade do equilíbrio emocional-cultural do homem japonês foram dadas no filme - um roteiro, aliás, fundado em cartas originais daquelas guarnições, sepultadas - as cartas - numa caverna, por desobediência de um soldado à ordem do próprio General Kobayashi: ele mandara queimar tudo e o subalterno enterrou as missivas - provas documentais das aflições.
Se havia possibilidade de que muitos dentre nós crêssemos na determinação pétrea, no extremismo dos soldados, e por extensão, do homem japonês, o filme nos fez o favor - com muita delicadeza - de humanizá-los ao ponto de termos empatia por sua ansiedade e medo.
Disse-nos assim que a guerra é estúpida também porque convence o homem a expor-se à morte antes mesmo que possa fazer algum juízo de valor sobre a relação entre sua vida e a própria guerra.

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

A SAGA DE LISARB

Introdução
Antes da narração, caso não alcance ao final da leitura que o texto não seja enfadonho, escuso-me ao caro leitor pela falta de estilo, mas a intenção é apresentar esta história da maneira que julguei mais clara e possível, dada a profusão e caos que meus olhos puderam ver.
Também pela incapacidade de produzir qualquer ensaio etnográfico, maior razão da escolha do jeito, dos recursos – ou falta deles -, levando a efeito mostrar-lhes as coisas e os fatos, as gentes e as emoções. 
Tampouco estou convicto de que o cerne da narração seja unanimemente aceito como interessantíssimo! Ou mesmo que venha a existir algum padrão estético na narrativa ou no objeto!
...ainda que eu soubesse falar sobre estética da miséria, da fome ou da superação...
Insisto, porém, em apresentá-lo.

Capítulo 1 – O país de Etsedron
Bem, era início de um século confuso, estupefato e absorto nos mais modernos aperfeiçoamentos técnicos e tecnológicos.
Aos olhos do mundo tratava-se de um país de natureza exuberante; mulheres bonitas... um caldeirão de raças e de belos híbridos! Um tanto quanto descuidado das coisas públicas e das questões sociais, mas um sonho de país! Nação ainda jovem rumo ao progresso! Uma república presidencialista; um paraíso monumental, com suas florestas e climas, terra e gentes: hospitaleiras, agradáveis, simpáticas!
Imenso território - maior em área que as setecentos e vinte e sete léguas entre os pólos -, assentado sobre subsolo atochado de jazidas com infinidade mineral e metais.
Oceano a espraiar-se nas costas leste-norte...
Não se sentia, entretanto, que aos ares de seu povo houvesse todos tais predicativos. Aliás compartilhava tão somente poucos dois ou três, sem cuidar  fossem sérios ou fixos os outros.
A preocupação com a sobrevivência vinha em primeiro plano, tanto e tão preocupante que suplantava o orgulho pessoal e o conceito de cidadania que se disseminava no mundo de então, redundando num mar de atividades de muito extenso leque:  viviam homens, mulheres e crianças fazendo de tudo com o que pudessem auferir ganhos.
Mão-de-obra malbaratada e degradação moral por todo canto: negociadores de bilhetes para transportes coletivos, entregadores de panfletos de charlatães, catadores de lixo, vendedores ambulantes de toda ordem, pedintes, prostitutas de todas a idades, prestidigitadores, vendedores de toda sorte de ilusão, de coisas inexistentes, de bilhetes de sorteios premiados - falsificados com a chancela pública, de serviços imperdíveis, de redenção imediata do espírito, etc.
Quanto à política, tinham a administração como um elemento abstraído de suas vidas, resignados que estavam com a desfaçatez dos homens públicos, com a corrupção que grassava nas diversas vilas, províncias e no palácio do presidente, que muita vez era entendido como um debochado monarca.
Nenhuma instituição era tida como ilibada absolutamente e algumas até passariam despercebidas se não existissem contribuições – pomposo nome para os pesados impostos – mantenedoras de seu sustento.
Tinha-se o receio dos homens do poder e da justiça pública, medo dos muito ricos, em cujas manufaturas, teares e campos, empregavam-se, pânico de ladrão e de polícia.
Mesmo uma tênue sensação de nação não lhes corria muito definida na idéia.
Nem todos tinham exatamente esta visão senão a esmagadora maioria.
Com efeito, uma indignação crescia a ponto de assustar.
Também cresciam a violência e a miséria, a diferença de renda e a indiferença do governo, que gozava do prestígio de ser reunir as melhores cabeças do país, prepostos da república, diga-se de passagem, pelo sufrágio universal.
Quanto ao deus, não era certo que fosse judaico-cristão ou as moedas de ouro.
O certo é que se vivia numa plutocracia em que quem tivesse a notabilidade da abastança ou tráfego de influência poderia ter produtos de qualquer espécie, sólidos ou não: dignidade, respeito, sexo, vida, alma, importados em geral...
Da educação pouco se via melhorado, piorado sim, e muito!
Já fôra o tempo dos cortejos decentes às virgens e senhoras por parte dos homens.
Respeito aos velhos decanos ficara há muito obsoleto.
A linha que separava o direito e o dever e a esperança na justiça mundana estavam tão desgastadas que se operava muita vez a justiça pela própria força física. Diga-se neste trecho, que a instituição policial estava tão desacreditada quanto às demais.
Pouco interessava aos habitantes comuns do país colocar sua prole nas escolas, de nada adiantava. Nunca chegariam aos altos escalões mesmo! Tinham, sim, é que “trabalhar desde cedo para dar valor ao suor dos pais e criarem responsabilidade...”
Ademais, ir para a escola para quê, já que ouviam amiúde que o ensino só decaía em qualidade? Para quê? Para correr o risco de ser assaltado ou espancado o menino, ou deflorada a menina durante o árduo caminho ressequido do percurso? Para ser tomado nas emboscadas dos grupos dos malfeitores?
Não, definitivamente não valia a pena o empenho de estudar! Deixasse os temas de grande relevância moral, ética, filosófica, social e tudo o que fosse grande pensar, para os doutores.
O lazer e a cultura, para quase todos vinha da falta de oportunidade de experimentar coisa melhor. Raro não era se tratar de precária e infame educação que os enredava num contentamento com frivolidades alienantes.
Havia a falta de treino para pensar em enlevar o espírito com alguma arte mais apurada (e nem interessava ao poder que mudasse).
Dentre as diversões conta-se que havia espetáculos teatrais em praças abertas, de extremo mau gosto.
As peças apresentadas tratavam sempre da desgraça, da violência e da miséria humanas ou de escândalos de poderosos ou pessoas públicas, recém celebridades, aliás, pululavam aos milhares as nulidades nacionais e estrangeiras.
Havia outras cujos personagens se diziam comediantes ou cantores, e outras em que os personagens eram religiosos.
Crescia em popularidade enjaularem um grupo heterogêneo de nulidades apenas para deleite em ver as mazelas da moral de uso particular, contraditada pela de uso público.
A audiência desse espetáculo crescia a tanto que todo prócer mantinha uma jaula semelhante em suas praças particulares, cobrando dos assistentes apenas o ficarem embasbacados.
O escárnio, a desarmonia, a incitação da violência e o enaltecimento do picaresco eram de muito uso nos argumentos de seus redatores.
Pouco era criado. Nada parecia se inovar em nenhuma dessas supostas artes, enfeixadas em poucas mãos de produtores que competiam acirradamente pela audiência e patrocínio.
Em especial as novelas nunca terminavam. Mudavam épocas e nomes, mas o enredo sempre era intrigas, encontros e desencontros de casais enamorados, casos de corrupção e crimes em que se provava a todo o transe a dignidade da pobreza contra a desejada vilania do rico.
Um espetáculo ocupava grande destaque: um esporte praticado numa extensão de terra gramada com vários competidores em escretes opositores, disputava cada uma atingir uma esfera inflada de couro de cabrito sob o arco da outra.
Pasmem, trabalhavam a bola com os pés!
Era realmente plástico e entusiasmado o esporte!
Entretanto, lamentável era a proporção do confronto entre as torcidas daqueles selecionados.
O fanatismo assomava a tanto que litigavam com tão belicosa animação pela supremacia da melhor habilidade de sua equipe deixando ao final, invariavelmente, baixas em seus exércitos.
A apatia diante do quadro político era absoluta. Pareciam terminantemente convictos do fatalismo do poder nas mãos daqueles homens egressos dos melhores educandários do país e do estrangeiro, mormente descendentes dos governadores e magistrados antecessores.
Estes se dividiam em facções a fim de dar feição à democracia  institucional vigente, e veiculavam seu fingimento por toda parte.
Em verdade, quando se tratava de enriquecimento ilícito, nenhum crivo prenderia qualquer desses homens.
Congregavam em auditórios em defesa das causas populares. Negociavam à socapa a divisão do roubo.
A crise era pretexto, o crescimento era argumento e o poder era a máquina de fazer dinheiro.
Impostos, contribuições, emolumentos e tantos tipos de taxa eram defendidos cada vez que se buscava solucionar “os problemas do país”.
Tramavam nos esconderijos: “Tal imposto vai para a área da saúde e, para garantir a arrecadação, descontar-se-á diretamente das transações financeiras. Estoutro vai para a educação. E aqui? Ora, este aqui é para benfeitoria das vias carroçáveis e logradouro.” Assim ia... “Não dá para todos? Então que se conceda a outrem lucrar com os moinhos e estábulos já desde agora postos a venda. Afinal, não sabemos mesmo controlar e a fuga de receita dá trabalho. A gente vende e ganha algum por fora. Deixem que as trabalhem e lucrem. Tudo para o ‘crescimento nacional’. Ainda não é o bastante? Aleguemos que reserve-se e se desviem verbas para o auxílio dos vitimados daquelas plagas amaldiçoadas pela secura.”
Assim sucedia.
Na outra ponta dessa corda grossa, posto que frágil, massas de famélicos se entulhavam nas ruas dos milhares de vilas, desgraçados.
Legiões de famintos continham a loucura num gigantesco terreno árido enquanto exércitos de párias perambulavam pelas calçadas.
Incontáveis moribundos empilhavam-se nos poucos corredores fétidos dos ambulatórios públicos.
Inumeráveis desocupados se acotovelavam nas filas de frentes de trabalho ou de caridades privadas.
Milhares de pessoas no ápice do delírio, a esmo vagueavam. 
Alguns, dizendo-se portadores de divinas revelações, congregavam aflitos para seu séquito.
Milhões de meliantes se especializavam no crime e constituíam governos paralelos em cada distrito do país. Grupos de celerados dominavam e faziam as próprias leis em seus próprios territórios.
Num extremo imperava a passividade quanto a um governo corrupto e espoliador. No outro a sensação de pânico e de princípio de caos. Este era o momento vivenciado por aquele aglomerado de gente, aquele povo humilhado a quem os ilustres da administração do país se postavam ironicamente na defesa dos anseios.
Mas, encerremos estas descrições recorrentes tendo-as por ora como suficientes para o que ainda gostaria de desenvolver.
Eis que movimentos se formavam no bojo das massas. Novos representantes avultavam no cenário político. Já era época de eleições e a gestão atual se preocupava com a possibilidade não prorrogar-se no mando daquela gente. Tratou logo de escamotear fraudes e desmentir alguma inconveniência
Desdizer verdades de algum dissidente e distribuir pequenas benesses à plebe – instrumento barato e eficaz.
Gerar outra exígua carteira de empregos e construir alguma escola ou casa de partos,  aqui e acolá.
Disseminavam a propaganda, a demagogia, pequenos brindes e favores de baixo custo:  uma porção de cereal, um  calçado, dentes falsos do tamanho ideal padrão, um aperto de mão, um sorriso amarelo e copiosas mentiras.
Todos os candidatos possíveis já inscritos para o pleito, nenhum agradava em inteiro o gosto da ampla maioria.
Antevia-se, mais uma vez, a perpetuação das injustiças. O desalento não tinha medida!
No último dia de inscrição, no entanto, surgiu um inaudito nome de uma candidata para o escrutínio.
Soube-se pelos arautos que não era do lugar e que a origem era incerta, assim como a idade, a vida, a experiência em escaramuças políticas e tudo o mais.
O nome era Lisarb Adama Airtap. Podia ser de origem árabe, não se sabe.
A primeira aparição deu-se em...


Capítulo 2 – A Gênese
No árido lugarejo de Mèugnin Ed Arret, para as bandas de Is Rop Mu Adac, ao sudoeste da província da Uirap Euq Atup, já na entrada do portal da tribo, a efígie sobranceira de Anamused Acitìlop, o mais temido extremista da FD (Força Dominadora) - único partido legalizado no país -, fazia aflorar o pânico e a aflição, tão expressiva era sua fisionomia perversa e cruel.
Fonte exclusiva de água, o açude central minguava. Em seu leito repousavam os corpos dos bravos milicianos rebeldes exemplarmente trucidados. Sobre aqueles corpos sem alma flutuava na tênue lâmina fétida e avermelhada o corpo de Oãçan Ed Ahnogrev Euq.
Até o tempo em possuía sua alma, era corpo de homem formoso, justo e trabalhador.
Provinha das plagas sulinas do país para empenhar esforços no campo, com o firme propósito de encontrar outro sentido na vida que não fosse desengano.
No novo meio encontrou sua devotada amásia, mulher impassível com quem teve dezesseis filhos, dos quais apenas dez sobreviveram à primeira década de vida, de que restaram vivos na pós-revolução do punhal somente quatro: três homens e uma mulher.
Porém o regime de terror da FD tirou a Oãçan a esperança da linhagem viril, aniquilando seus meninos-homens e despojando-o dos corpos, que ora jaziam na pouca água do açude central da cidade. 
Oãçan tem nascimento reconhecido na cidade de Arrop, satélite da capital. Filho de um escriba frequentador dos salões e armazéns reais, desde infante aprendeu com o pai, que estudar as letras e os números se fazia necessário para a intimidade com o poder.
Muito a contragosto estudou - visto que preferia o ofício de mexer com a terra.
Às escondidas assistia às palestras peripatéticas dos cultores da agricultura, suas investigações no campo da fertilização orgânica e irrigação em larga escala, o uso dos animais em substituição à tração humana, as culturas de aproveitamento do solo e a produção planificada para as massas.
Contrafeito, entretanto, trilhou a imposição paterna graduando-se brilhantemente em Contas do Estado na única universidade do hemisfério do mundo então conhecido.
Empregou-se a operar na Casa Real da Moeda, como adjunto do Ministro Real e assessor de logística da província administrativa.
Uma prebenda sem dúvida: cara ao povo, rara em funcionalidade e um privilégio aristocrático.
As contas do governo estavam mal. Contínuos desmandos da nobreza corrupta, excessivos gastos da família real, uma longa era de fracasso e descuido das coisas públicas e da economia nacional, a total falência da diplomacia, tudo levou Lisarb – antigo nome de Etsedron, mais tarde emprestado à filha remanescente do terror - a ocupar o posto de mais alto endividamento e principal alvo da desconfiança e cobiça das nações.
País de profundas feridas sociais, a queda da monarquia era iminente; a soberania do estado era ameaçada por forças revoltosas; planos de golpes eram discutidos nos porões do poder, no seio do cotidiano do povo, nos palácios e subterrâneos dos quartéis.
Não tardou a Oãçan entender o mecanismo da aristocracia, menos ainda a perceber a precariedade de sua condição de partícipe da burocracia, estamento a que não caberia misericórdia, a que não se pouparia da eventual fúria do ato da vingança popular.
A despeito das recomendações de paz de seus pares encastelados, à vista da inflamação das ruas, Oãçan preparou aporte para suas mínimas necessidades.
Entretanto, a efervescência de movimentos e levantes o fizeram deixar para trás todo e qualquer petrecho e moedas, para, durante a invasão de turbas e hordas no palácio, com alguns dos nobres, escapar pelos túneis secretos, seculares, dos prédios da monarquia de quinhentos anos em Lisarb.
Deu-se fuga ao destino do jovem Oãçan Ed Ahnogrev Euq, da capital Orienaj Ed Oir para a província de Uirap Euq Atup.
Naquele ponto a localidade era pacata, conquanto ressentisse dissabores das revoluções não o tinha em grande conta na vida aldeã, pelos somenos efeitos de qualquer política de interesse mesquinho em lugares distantes dos epicentros de poder. 
A terra árida se oferecia ao experimento dos industriosos, ao cultivo dos fortes.


Capítulo 3 – O condutor de bestas
O principal almocreve de Uirap Euq Atup teve pai e mãe e uma infinidade de irmãos, todos miseráveis.
A infância fora breve, um átimo. Inda cedo, barriga inchada de vermes, repartia a responsabilidade de viver, aquinhoando a fatia da obrigação que seus pais desprezaram.
Bebia do que a valente vegetação pudesse umedecer e comia a carne do que parasse de respirar, porfiando com abutres os despojos da morte.
Seu pai era exclusividade sua, o mais recente de uma fiada de homens bêbados e celerados, machos antecessores de sua mãe e pais de seus irmãos, filhos de pura promiscuidade.
Em pequeno descobriu-se bajulador de quantos pudessem cedê-lo algum alimento ou conforto vulgar.
Achou-se hábil com o dinheiro, obtido primeiro com pequenos favores alheios a qualquer moralidade: alcovitava meretrizes, trapaceava em qualquer negócio ou jogo, furtava a favor de alguma paga e sabotava o comércio por salários e gorjetas ofertados no mercado negro da concorrência liberal.
A cada moeda dava a devida adoração, guardando-as tantas quanto possível em um poço natural dos vales, nos confins da cidade.
Vivia então pela esperança de um dia ser poderoso e ter sob os calcanhares toda aquela cidade, e mesmo todo o país.
Nasceu nele o ardente desejo de dominar a todos, vingar-se de cada minuto de medo e de fome desde sua concepção no ventre de uma mulher desprezível. 
Treinou sua alma bruta e sem Deus, desprovida de lealdade ou confiança, cevada de ódio e ambição.
A primeira cavalgadura, prestígio e recursos inaugurais do empreendimento, conseguiu numa ação espetacular:
Roubou-os a um charlatão solitário e errante, do qual também lhe tiraria a vida.
Contava mal sua idade em nove anos e associou-se ao patife sob a jura de iludirem o povo do lugar, enquanto este o recepcionasse nas campinas de acesso à cidade.
Convenceu o meliante de sua capacidade de punguear as algibeiras, bastando ao falso distrair a atenção dos incautos, instruindo-os sobre o melhor jeito de encontrar a felicidade no tônico que vendia sob o anúncio “Todo tolo problema tem solução, com a felicidade em poção.” 
        - Manda-os a todos que experimentem tua beberagem, segundo um ritual: primeiro persignem-se em lembrança e gratidão ao superior das nossas pequenas inteligências; e que apertem bem os olhos, tapando o nariz enquanto seguram o frasco da infusão. Diz-lhes que bebam assim num só gole e permaneçam em quietude, faces para o céu durante trinta segundos - tempo em que os aliviarei das suas importâncias.
        - Olha lá garoto! Que não me traias e conserves teu coro colado nos ossos!
Aglomerados nas campinas, desde os venerandos até os desclassificados de Uirap Euq Atup vieram conhecer a fórmula fácil da felicidade, pelo preço de uma moeda de prata.
 Apinhados em regimentos justapostos, entre os quais estreitos corredores serviriam de passagem ao pequeno ladrão – totalmente em oculto até o momento -, mil e trezentos homens e mulheres de olhos fechados ergueram o rosto para as nuvens numa ingênua coreografia.
Com velocidade sobrenatural o pequeno bandido alijou cento e cinqüenta deles.
Abertas as janelas da alma, continuavam vazios do milagre prometido, e com forte grita exigiram felicidade:
        - Não nos aconteceu nada...
        - Cadê a felicidade?
        - É, continuamos sem esperança e tristes...
        - Sim, não sentimos prazer algum...
        - Queremos o que você nos prometeu...
        - Queremos o dinheiro de volta...
        - Não! Queremos sua cabeça, ladrão, bandido, patife, sem-vergonha...
Antes que a massa insana se precipitasse sobre o homem, o menino saltou da lona alta da carroça segurando a maior pedra que conseguira alçar, e atingiu a cabeça do falso promitente com tamanha força e estrondo, que pedaços ensangüentados da pele, e nesgas e tufos da cabeça espargiram sobre as primeiras filas de indignados.
Estacaram silenciosos.
Do fundo uma voz principiou a ovação:
        - Vivas ao pequeno justiceiro! Vivas!
        - Vivas ao nosso vingador Anamused Acitìlop! Vivas!
        - Vivas! Vivas! Vivas! Vivas ao nosso líder Anamused Acitìlop
Convieram em dar-lhe a carroça e o cavalo, e parte dos tesouros que dissimuladamente o menino fingira ter resgatado dentre os caixotes de medicamentos e muitas quinquilharias do enganador morto.


Capítulo 4 – A Primeira Decepção de Lisarb
A menina via sua mãe, um coração terno num corpo forte e delicado, uma mente ativa e perspicaz numa mulher amada.
Era seu símbolo particular de gratidão ao Criador.
Em seu pai, um homem inteligente a ponto de não o ser ostensivamente mais que qualquer outro; franco e lhano, ele envolvia os companheiros da vila no processo civilizatório das boas maneiras, do ambiente de respeito e regras, da simpatia e solidariedade, conferidas aos seres gregários.
Era seu símbolo público de cidadania, o reverso do tesouro, completude imprescindível da sua razão de viver.
Ceavam os dezoito membros coesos da perfeição familiar!  Lisarb fitava os quinze irmãos e os pais embevecidamente, de quando em quando alternando a perscrutação com o retábulo ao fundo da cozinha, no alto; entalhado pelo pai, justificava, eloqüente, aquela sorte!
Abruptamente os cheiros do seu bem-estar foram trocados pela algaravia que recendia morte e rancor intensos:
        - Adúltera! Prostituta! Rameira!
Oãçan ordenou silêncio. Acorreu à janela e viu pela vidraça a mulher jovem e mortificada caída no chão enlameado, semi coberta com um lençol que permitia concluir: fora arrebatada de um leito.
          - Adúltera! Prostituta! Rameira! Perversa! Desgraçada! – continuava o coro difuso.
        - Por Deus, homens! O que vocês estão fazendo? – gritou Oãçan, já na soleira da porta – não façam isso... por Deus!
- Esta adúltera foi pega em cama de outro homem. Eis aqui seu acusador: seu esposo e senhor; eis este outro: a vítima seduzida pelos fascínios da víbora! Devemos apedrejá-la, é a lei, até a morte. – proferiu o líder da populaça, juiz e verdugo.
        - Mas já os tempos são outros, senhores, em que não precisamos mais da barbárie da lei, e sim, da razão, da justiça...
        - A lei é a razão e com ela se faz a justiça, forasteiro – com efeito, mal cumpria duas décadas que Oãçan se instalara em Mèugnin Ed Arret - Quem não merece pena não cometeu crime!
        - Mas estamos em tempo de Graça e Paz. Sejamos razoáveis, convencionemos um tribunal, ouçamos os delituosos, deixemos expor-nos suas causas, por misericórdia, senhores! – desesperava-se Oãçan, diluindo-se em e suores e lágrimas.
A estas palavras alguns encontraram despertar e deixaram cair suas pedras aos pés da mulher. Outros, que antes bramiam empunhando agressivamente, agora silentes, investigavam seus instintos como a procurar sentido no ato.
O líder judiciário, em indisfarçável aflição vociferou contra o nobre sentimentalista:
        - Que queres tu? Perturbar nossa ordem? Subverter as leis que nasceram da nossa natureza? Ou pretendes tornar-se célebre mártir por causa perdida, por uma prostituta? Já sei, queres assumir a liderança dessa gente... Cá te espero, oportunista!
Alvejou a cabeça de Oãçan a pedra do líder, automaticamente seguida das demais, dos que até ali permaneciam expectantes.
Trôpego, o patriarca, ainda atingido diversas vezes nas costas, lançou-se sobre a enorme prole que espiava apertada da porta entreaberta, jogando a todos no chão para salvá-los do apedrejamento da massa, para cuja consumação o corpo nu da jovem adúltera não foi poupado.
Ao final, à vista do corpo inerte com a cabeça outrora bela, ora despedaçada, triunfalmente Anamused Acitìlop sentenciou:
        - Cidadãos de Mèugnin Ed Arret, povo de Uirap Euq Atup, toda a gente de Etsedron: a força é o instrumento mais eficiente da paz. O braço forte do poder deve ser respeitado a fim de fazermos valer nossa soberania ante as nações; pela força se rechaçam as injustiças e eu, Anamused Acitìlop, filho desta terra, neste momento declaro a posse do governo interino da província, respaldado pelos comandantes das batalhas que derribaram o estado dos poltrões que sentavam nas cadeiras da dominação, e com desfaçatez regiam injustamente esta terra que um dia se chamou, vergonhosamente, Lisarb, mas que, para sua maior honra e glória no porvir, desde a derrocada da monarquia pobre, é dita Etsedron.
A Graça e a Paz foram concedidas à Terra. Havia porém, o homem, de esforçar-se para aceitar e empregá-las.

GRACIAS ANDINAS