segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Despedida de craque

Hoje, Ronaldo Fenômeno deixou oficialmente os gramados. Já o havia esvaziado das lindas jogadas e dos lances sobre-humanos que o fizeram, três vezes, o melhor jogador de futebol do mundo: as explosões, os dribles e os gols impressionantes. Merecidos títulos, aliás, que o enfileiraram no panteão dos atletas eternos.
Em vez de dizer do grande jogador que ele foi, das suas conquistas, prefiro falar sobre outros aspectos.
Foi despedida falada, chorosa, lacrimal, sem espetáculo, sem apoteose.
Duas coisas importantes, todavia, destaco nessa atitude do craque - além do homem que enriqueceu com o futebol e que aos trinta e poucos anos, cansado e adoecido, decidiu se aposentar; depois de alguns escândalos - acontecimentos banais da vida, cuja repercussão serviu mais à vendagem dos pasquins marrons do que para alguma pesagem moral; frustrado por não ter atendido ao investimento emocional de uma numerosa torcida difusa; desencantado com o fim... que um dia chegaria... e chegou, grosseiro,  subvertendo, engolindo a realidade, transformando o mundo, contrariando seus desejos e baldando seus esforços.
O primeiro aspecto é da transitoriedade de qualquer carreira, seja de jogador de futebol, astro de televisão ou cinema, escriturário, gari, recepcionista ou caixa de supermercado, enfim, de qualquer atividade, glamourosa ou não: tudo passa amigo! Mesmo que não consigamos auferir riqueza material do trabalho que fazemos durante a vida, ele, como a própria vida, passa.
Ronaldo demonstrou, entretanto, que o desligamento (ainda mais inopinado, na contramão da vontade), embora muito difícil, deve ser encarado com paz, com resignação. Que nos alente ao menos nossa história pessoal, porque mesmo a dele, cercada de tanta glória e assédio, um dia somente para ele fará alguma diferença substancial.
É isso! Devemos nos orgulhar de nossa história e construí-la com carinho e amor-próprio, com elevada auto-estima. Um dia a nossa história será a mais recorrente nas nossas lembranças. Com ela nos nutriremos de um ponto até o fim, e faremos dela a razão de termos vivido; nossa missão por assim dizer.
A outra coisa que notei: humildade. Não, não destoa do milionário ex-jogador, posto que afirmem os maus intérpretes do comportamento humilde, que o confundem com a ignorância ou a pobreza.
A humildade: a virtude que nos faz perceber nossa limitação; a reverência ao todo, de que somos pequeníssima parte; a simplicidade de entender que não somos mais que um sopro, uma sombra, uma luz que brilha intensamente, depois bruxuleia, depois se apaga.
Sem rasgos de defesa ou rompantes dos grandes feitos, o moço se desculpou, agradeceu, se despediu.
O planeta noticiou sua despedida. Eu agradeço a ele.
Continue firme Ronaldo, sendo um fenômeno, doravante em sua vida.
Deus te ilumine, campeão!

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GRACIAS ANDINAS