sábado, 5 de fevereiro de 2011

Cartas de Iwo Jima

Um filme nipônico de Clint Eastwood, bonita fita de cinema com que nos brindou a televisão (SBT) no final de janeiro de 2011.
Filme japonês no centro da narrativa e nas feições do elenco, cujos figurantes ocidentais o eram pelo acaso da história, tão somente para ressaltar o desastre das más convicções - as que contrariam o amor-próprio e a preservação da vida, revogando-os ou relegando-os a uma somenos virtude questionável.
Iwo Jima é uma ilha do pacífico. Em 1944, na segunda guerra mundial, foi tornada um vulnerável baluarte da soberania imperial japonesa contra o avanço norte-americano, que a pretendia estratégico-militarmente.
Mais que um cenário árido de uma guerra cínica, foi o palco da agonia existencial de homens que oscilaram - a despeito de qualquer certeza que tivéssemos da sua firmeza de propósito -, não entre servir ou não servir ao imperador Hiroito, mas entre viver ou morrer pela devoção nacionalista, em detrimento dos anseios pessoais.
O general Kobayashi e o tenente-coronel Nishi eram respectivamente: um prestigiado militar diplomático em solo americano, a quem se oferecia o regalo dos grandes homens; e um campeão olímpico de hipismo que residiu nos EUA durante algum tempo, entre as personalidades mais emblemáticas do país. A estes, o peso de conhecer o mundo ocidental por dentro fazia recear o suicídio, fosse pela aparente galhardia da raça que negava entregar vivo um só homem sequer; fosse pelo auto-extermínio, suicídio ordenado para que ninguém se entregasse - ou seja: a vida não valia mais que o caráter valoroso e ostensivo dos soldados.
Para eles, porém, havia mais a perder que apenas a guerra.
Ambos transitaram nesse capítulo histórico como os comandantes maiores das tropas rotas, despreparadas e humilhadas por severos oficiais asiáticos, e de alguma forma, representavam a mitigação da disciplina oriental carregada de desprezo pelo indivíduo.
Esse abrandamento era influência da cultura contra a qual agora deveriam combater.
Demonstrações de fragilidade do equilíbrio emocional-cultural do homem japonês foram dadas no filme - um roteiro, aliás, fundado em cartas originais daquelas guarnições, sepultadas - as cartas - numa caverna, por desobediência de um soldado à ordem do próprio General Kobayashi: ele mandara queimar tudo e o subalterno enterrou as missivas - provas documentais das aflições.
Se havia possibilidade de que muitos dentre nós crêssemos na determinação pétrea, no extremismo dos soldados, e por extensão, do homem japonês, o filme nos fez o favor - com muita delicadeza - de humanizá-los ao ponto de termos empatia por sua ansiedade e medo.
Disse-nos assim que a guerra é estúpida também porque convence o homem a expor-se à morte antes mesmo que possa fazer algum juízo de valor sobre a relação entre sua vida e a própria guerra.

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