segunda-feira, 31 de outubro de 2016

CONTINUA

[CONTINUA]

Um minuto de silêncio eu peço
Aos que morrem da morte do corpo
Violentamente ou pela traição do tempo
Do Destino que reconsidera

Desencarnam
E que o deus de sua preferência,
Na confabulação com os demônios e os anjos
Trate da essência

Mas um minuto de silêncio também eu peço
Aos que morremos todo dia
Do pânico pelo futuro incerto
De ansiedade por um amanhã
Que jamais chega e não virá nunca

Um minutinho diário
A nós que morremos de carência de amor
De asfixia de desamor
Que morremos de carência de mãe e pai
De paixão e sexo
De amigo
De amar

Um minuto por dia
Aos que morremos da ilusão da imortalidade do instante
E transbordamos de emoções perversas
Que perdemos a prudência
De tanto medo irracional
E maldade sem conta
Assim monstros sem alma

Um minutinho apenas
Aos que morremos de querer comida, coito, proteção
Aos que desejamos que o bem nos alcance por milagre
Ou por magia
Que pensamos tanto em nada e tão pouco em tudo
E de tanta mesquinhez morremos
Em camadas, todo dia

Um minuto ao dia, o silêncio
Aos que servilmente nos soterramos nas leviandades
Que enganamos a vida com as ideias sem fundo
Do cotidiano insulso
De vã aparência de coisas

E morremos todos os dias
E nunca morremos

Eu peço um minuto de silêncio
Por todos e por nós

Porque depois do minuto
O silêncio será uma grita ensurdecedora dentro do peito.

[CONTINUA]

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GRACIAS ANDINAS