segunda-feira, 25 de julho de 2011

O Discurso do Rei


A realeza monárquica da Inglaterra foi decididamente humanizada. Contudo, não perdeu a elegância, a imponência da solenidade britânica. Nem a fala de George V (“fomos reduzidos a atores”) esvaziou o valor da tradição.
Ao contrário, expor a pessoalidade dos agentes de Buckingham enalteceu magicamente tais homens e mulheres, muito além dos fatos reais mais recentes – menos cinematográficos – dos escândalos de Lady Diana e Príncipe Charles, ou do requintado (e talvez não tão memorável assim) casamento de William.
Tampouco a fria constatação empresarial do Duque de York (na fita, o futuro rei gago, familiarmente chamado de Bertie), seguida da réplica perspicaz do rei, lançou na mortalidade trivial suas figuras, quando o filho declarou ser a família real uma firma, ao que o velho monarca reconheceu que, dado ao clima de insegurança proporcionado pelo apaixonado sucessor, Príncipe David, alguns poderiam perder o emprego. 
Assim é o filme “O Discurso do Rei”, um favor para os trópicos de tentar explicar como e por que membros de uma família - aparentemente ociosa e cara – podem carregar em si a força imagética e o caráter de uma nação.
Não trata teoricamente, mas em imagens e personalidades, e som – ou falta dele -, no espaço entre – guerras de vinte anos, num contexto de transformação mundial e inovações tecnológicas (rádio, avião, medicina e geopolítica).
Eleição não há, pois a coroa é oligárquica, sucessória, hereditária, primogênita e vitalícia. O poder, no entanto, não é absoluto: há a classe política e um estado de direito. Aliás, são os responsáveis por manter a roda girando. Então, para que serviria um rei?
A esta pergunta, que pudesse ter sido feita algumas vezes por brasileirinhos tão “mais ou menos” como eu, o filme respondeu com base na veracidade de acontecimentos, numa proposta interessante: tire a voz do rei e vejamos para o que ele serve.
O filme biográfico é humorado quando o Duque se submete a espetaculosas e estranhas terapias ou gagueja, ou faz meneios para não travar diante dos súditos; é trágico quando a platéia se frustra ou quando o reino ameaça desmoronar ante a possibilidade de renúncia do sucessor, e é tenso quando a segunda grande guerra chama à realidade aqueles tempos sombrios.
No entanto, não é ridículo ver o futuro novo rei se esfalfar num trava-língua ou demonstrar total aflição ante um público ávido de uma palavra oracular.
É o inverso: aliado à aproximação amistosa com o pseudo-doutor Lionel Logue – um súdito de colônia; de par com o envolvimento de um príncipe com uma fogosa plebéia, e da confissão de mazelas psicológicas da infância, “O Discurso do Rei” declarou: para ser rei é preciso ter a capacidade de superar seus próprios problemas, suas dificuldades pessoais, seus traumas mais íntimos, colocá-los atrás e abaixo do ideal de patriotismo, para, só assim, ser a representação encarnada da união, da força e da virtude de um povo.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GRACIAS ANDINAS