sábado, 8 de setembro de 2012

Crônicas dos Coveiros do Cemitério Verde - XXXIII - DESOLAÇÃO - FIM


XXXIII – DESOLAÇÃO - FIM
É! Não houve sobrevivente.
Os jornais espetaculares estamparam a chacina daqueles aventureiros.
Tudo desolação e miséria que a tristeza não dá conta!
Ai meu Deus! O infortúnio daqueles homens! Quanta mágoa! Quanto rancor! E agora, quem vai enterrá-los juntamente com tantos outros corpos sem alma?
Quem vai enterrar esses homens perdidos? Quem vai servir de coveiro para os infelizes?
Ai meu Deus!
Agora é só escombro! Agora todos os corpos estão sem alma...
Porca foi encontrado com tiros no peito, estirado ao lado de seu melhor amigo, Miguelito. Ambos guardaram nos rostos a expressão de uma amizade eterna.
Seredião, o único evangélico combatente, pereceu com os joelhos curvados, uma bíblia de bolso numa das mãos e um revólver na outra.
Lupércio e Divina, que tinha vindo em reforço para o conflito, foram esmagados por uma escultura monolítica de mármore europeu que teria se desprendido com o abalo de explosão.
E agora? Todos os personagens estão terminados inertes... Uma equipe procura nas ruínas alguma fonte de vida. A imprensa está presente. A turba de curiosos também... Ai meu Deus! Tende piedade de nós!
Os operários I e II - construtores e jardineiros -, se dividiram entre carpideiras e contabilistas. Os últimos, dissimulando a alegria, calculavam o lucro da reconstrução da cidade dos mortos. Os primeiros mentiam se importar.
Literalmente, mal esperaram a poeira assentar: uma funcionária da Associação dos Cemitérios Privados pregava uma placa “O CEMITÉRIO VERDE ADMITE COVEIROS”.

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GRACIAS ANDINAS