domingo, 5 de junho de 2011

A MARCHA DAS VADIAS

A marcha das vadias (ironicamente, claro!), poderia ter se chamado somente a marcha das mulheres - pura e simplesmente.
Trezentas mulheres se reuniram para uma passeata, ontem, 04, na av. Paulista.
Protestavam contra a violência dos homens, relativizada com a alegação de que as mulheres induzem, seduzem ou atraem uma possível e justificada violência, em face do vestuário que ostentam para se sentirem mais atraentes, ou apenas para terem melhor bem-estar. Só isso!
Apoio a iniciativa das mulheres. Não é por que uma mulher usa um decote ou uma minissaia, que um troglodita pode se sentir autorizado a passar dos limites.
Na reportagem do IG de hoje, citou-se o infame chiste de Rafinha Bastos, de que uma mulher feia devia agradecer por ter sido estuprada, e outra grosseira opinião de um policial norte-americano de que as mulheres dão azo aos assédios mais violentos.
Ambos fizeram eco a uma visão ultrapassada de milhões de machistas que insistem em resistir a um código humano de respeito à pessoa, independente de sexo, cor, raça, credo, etc. Uma cafajestada de plantão que resiste em aperfeiçoar-se como ser abençoado, e reconhecer nas mulheres - nossas companheiras de todas as lutas -, uma obra-prima perfeita e digna de honras e excelência de tratamento.
Mas, diante de tantas mudanças - pretensamente avanços da humanidade -, porque estamos ainda carregando este anacronismo comportamental?
A explicação deve ser tema de profundas reflexões, porém pressinto uma defasagem entre educação social e prática de novos costumes.
A mulher deve ficar em estado de vigilância quanto ao bom senso.
Numa matéria que me foi dada a conhecer por um colega, em 19 de maio, sob o título “Roupas estão sexualizando meninas cedo demais?”, as pesquisadoras Samantha Goodin e Sarah Murnen, da Universidade Kenyon, nos Estados Unidos, responderam que sim:
“Segundo a ‘teoria da objetificação’ - ou reificação -, as mulheres das culturas ocidentais são amplamente retratadas e tratadas como objetos do olhar masculino.
Isto leva ao desenvolvimento da auto-objetificação, um processo por meio do qual meninas e mulheres internalizam estas mensagens e veem os seus próprios corpos como objetos a serem avaliados de acordo com normas estreitas - muitas vezes sexualizadas - de atratividade.”
“Tendo em conta os efeitos negativos da auto-objetificação, como a insatisfação corporal, depressão, baixa confiança e baixa auto-estima, Goodin e suas colegas examinaram o papel das roupas das meninas como uma possível influência social que pode contribuir para a auto-objetificação das garotas pré-adolescentes.”
Por aí vai...
Desde cedo, nos meus estreitos círculos, tenho dito a respeito de movimentos e novas regras [ou desregramentos] que se avultam em estandartes de modernidade e liberdade. Mentirinhas amiudadas que escondem intenções muito maléficas.
Num marco de trinta anos, tenho notado que as crianças, os pré e os adolescentes tem sido alvo de bombardeios midiáticos com a intenção de se tornarem cada vez mais prematuramente sexualizados, cujo objetivo primeiro é fazê-los excelentes consumidores precoces.
Assim, pais incautos, seguindo ditos de moda, de propagandas e programas de tevê, têm deixado suas meninas cada vez mais peruas e seus meninos cada vez mais machinhos cobridores.
A sexualidade deixou de ser tema de preocupação e tabu. Isso é bom!
Por outro lado, nenhum discurso eficaz foi criado. Isso é ruim! Porque a sexualidade dos jovens foi entregue à própria sorte, sustentada por uma visão eminentemente consumista, apoiada no tripé inquebrantável: sexo, dinheiro e poder.
Devemos falar sobre sexo com nossas crianças, indicando-lhes a dignidade, o prazer, os riscos, as frustrações, as fantasias e as realidades.
Senão continuaremos tendo, de um lado, o feminino banalizado; de outro, o machismo autorizado.
Ser machista é feio e nada tem a ver com ser macho, camaradas rapazes e homens!
Macho respeita, protege, honra, cuida, acalenta a fêmea.
Machista invade, maltrata, fere e mata. Isso não é são, é doença ou criminalidade. Como crime deve ser severamente punido; como doença deve ser preventivamente tratada.
Enquanto não fizermos isso, assim entregue aos sabores de discursos enviesados, de imagens vulgares que a perversão criativa dos fazedores de “cultura” vendem, o simples caminhar com uma minissaia continuará sendo fato gerador de aviltamento da mulher; e caso de polícia, que às vezes, sob o olhar silente e zombeteiro de alguns agentes da lei, pode ser tratado com importância somenos em face da vestimenta intrigante da vítima.
Então, como ficamos? A mulher pode vestir-se como quiser?
Sim, pode e deve. Mas, acima de qualquer roupa que coloque por fora, seja para causar inveja nas outras, provocar ciúmes dos amantes, seduzir novos parceiros, ou (propugnado no começo) apenas para se sentir bem, precisa antes se revestir por dentro de bom-senso, amor-próprio, auto-estima e respeito por si mesma, tudo de forma equilibrada.
Dos homens que adotam a postura machista do assédio grosseiro e atitudes indelicadas, quando não autênticos abusos, tenho a dizer: BABACAS!
Vocês não sabem que a mulher é uma pessoa com desejos e sentimentos? Que é ela quem se permite ser amada? Que, se ela não quiser, não rola? Que quem escolhe a parceria é ela? Que ela, muitas vezes, não quer sexo, mas apenas sensualidade? Que ela tem sentido estético diferente do nosso? Que a sensibilidade da mulher é elevada à enésima potência da nossa? Que com gestos e falas elegantes também se conquista, e com mais eficiência?
Se não sabia, é isso aí. Pense sobre isso com carinho, amigo, e comece, senão a reverenciar, a tratar com mais respeito as mulheres: nossas filhas, mães, amantes, esposas e amigas.

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GRACIAS ANDINAS