segunda-feira, 6 de junho de 2011

MEMÓRIA 40 – ESCOLA E EDUCAÇÃO

A escola, com freqüência, era o ponto alto dos nossos dias.
Das escolas, os professores em primeiro lugar.
Mas a educação não é coisa exclusiva da escola. Esta serve como intróito à vida de cidadão, como um depositário e transmissor do conhecimento formal das ciências. Porém não é ali que o camarada aprende definitivamente a ser gente.
Confundiu-se num tanto a idéia de que a educação são prédios lotados que parece quase descartada a aceitação de qualquer outra forma de instruir.
Vejo isso no dia a dia das escolas das periferias, quando nos dias de reunião de pais e mestres - em que os primeiros (ou melhor, as primeiras, pois são as mães que pesadamente comparecem) - usam aquela sessão para lavar a roupa suja com os docentes, os quais, por mais que apontem os defeitos morais indefensáveis dos anjinhos, não conseguem demovê-las de sua irresponsável mima excessiva dos filhos.
Não peguei o tempo dos castigos: palmadas e reguadas nas mãos, do chapéu de cone e do canto da sala, dos joelhos nos caroços de feijão. Vi e sofri um pouco de vexação a que fomos submetidos, os garotos da minha época, por recalcitrantes professores.
Diz-se hodiernamente que não se pode fazer nada contra a integridade física e moral do educando. Concordo plenamente. Afinal, a crueldade é irisada.
No entanto, veio somar-se a este diapasão educativo, o desleixo da idéia de que o aluno é um membro co-responsável numa comunidade. Hoje vemos que a agressão aos professores assoma nível alarmante e “bullying” se tornou matéria consagrada a altos estudos, mas contra a qual ninguém se digna a opinar com praticidade.
Lembro que nos espreitavam coordenadores de educação nas escolas públicas. Observavam como aves altaneiras, corrigindo-nos as indelicadezas em todo instante.
Cantávamos o hino nacional diariamente e tínhamos aulas de organização social e política. Vá lá que podiam servir ao interesse da propaganda do governo, mas muito se aprendia sobre o estado de direito!
Esforçávamo-nos para merecer as estrelinhas coloridas de papel alumínio, ou os livros dos concursos internos de leitura e ciências, tudo parte de um sistema meritocrático simples, de prêmios inocentes e castigos simbólicos de grande efeito moral.
Esmerávamo-nos nas lições de casa, na caligrafia, nas notas. Nossos cadernos e livros deviam estar limpos e organizados.
Adultos acompanhavam nosso aprendizado e crescimento.
Os professores tinham sempre razão. Imperava que uma queixa recebida em casa, servisse à investigação de como os pais educavam suas crias.
Ir parar na secretaria era o maior labéu da carreira estudantil. Lá, após cautelosas diligências, sabíamos que os pais seriam comunicados.
A frequência das aulas era minuciosamente levada em conta; a ausência nos tempos letivos era registrada e considerada um componente sócio-matemático de ascensão e promoção do estudante.
Repetíamos desde o primeiro ano. A evasão escolar por repetência é tema mais recente. A progressão continuada não resolveu. Em vez disso, de acordo com o ponto de vista, piorou, pois transformou a cena: quem fica ou quem sai, sabe menos que outrora. Quem continua vai até o limite do fundamental, rareando à medida que os graus sobem e conforme os preços das mensalidades praticadas na rede privada.
Os professores não eram nossos pais, nem tios, nem avós, nem parentes. Eles eram nossos professores: figura acima do bem e do mal, homens e mulheres dignos de honra.
A escolha da profissão era meticulosa, em que pesavam o bem-estar emocional e material. Penso que eram felizes com a escolha.
Tínhamos os membros dos grêmios, dos quais participávamos entusiasticamente como pessoas importantes para melhorar nosso universo.
Certo é que queríamos que isso fosse assim mesmo, espelhávamo-nos nos mais velhos, trabalhadores; afastávamo-nos do mal - em qualquer de suas aparências; líamos histórias em quadrinhos e clássicos da literatura; ouvíamos melodias agradáveis e almejávamos, ao encontrar a garota dos sonhos, a construir uma família para, só assim, sermos respeitados como homens de bem.
Desentendimentos e brigas sempre existiram. O curioso é que não raro encontrávamos amigos entre os contendores.
Raro também era ver fardas e viaturas vigilantes nas cercanias das escolas.
Na época sonhávamos em ser professores, advogados, engenheiros, médicos, ou cursar uma boa escola técnica para sermos excelentes profissionais. As aspirações dos mais velhos eram nossas inspirações.
Penso praticável esse modelo de sonho, baseado na felicidade de estudar e de aprender.
É necessário, entretanto, não desvirtuar o caminho: professor é mestre, aluno é aprendiz, pais são educadores.
A educação começa em casa e ponto final.
Não queiram responsabilizar a docência pelo mau-caratismo dos filhos, isso é responsabilidade do pai e da mãe.
Não é dividindo o tempo com distrações, mantendo os pequerruchos entretidos com televisão ou internet, se desincumbindo da culpa da ausência com premiações desregradas e efusivas demonstrações de afeto, mimos inadequados, inoportunos, que teremos adultos sóbrios, pessoas felizes, cidadãos sérios, amigos entre amigos, irmãos entre irmãos.
Ao contrário, não encorajaremos os meninos e meninas, nunca, a romperem seus casulos de egocentrismo.
Nem tudo eram maravilhas! Os governos não davam materiais e uniformes para o ensino fundamental. As “minorias coloridas” e a maioria pobre não alçavam grandes vôos acadêmicos.
De fato, a evasão era bem mais numerosa e mais cedo.
Sugiro então, um mix da pedagogia do passado com os benefícios legais da isonomia.

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GRACIAS ANDINAS