sábado, 25 de dezembro de 2010

QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?

A pergunta é o nome português  da fita indiana ganhadora do Oscar - a cobiçada estatueta da mais prestigiada academia de cinema de 2009, como melhor filme estrangeiro.
Cobiçada, disse, como para fazer girar uma sutil roda de fortuna, porque o que é melhor segundo o juízo de valor de uma meia dúzia de entendidos, pode não corresponder ao que eu percebo como o melhor. Posso, inclusive, não conhecer ou não entender os meandros psicológicos de quem elege, nem seus critérios de avaliação ou conceitos de esteticamente correto. Por presunção penso que, maciçamente, o grande público também desconhece tais aspectos. [deixo esse viés para outra chance]
Não obstante, mesmo que eu pudesse ter assistido a todos os filmes daquele ano, fatalmente este estaria entre os melhores, senão o meu melhor estrangeiro. Não sei se faço coro, mas chamo estrangeira, qualquer película não assinada por estadunidenses - filhos da festa, donos da sede.
"Quem quer ser um milionário?" é exuberante em contrapontos e contrapartidas; volumoso, forte e dinâmico em peripécias e emoções.
O enredo não é novo: o malévolo condão do dinheiro a arrastar jovens para o crime, encontrando a resistência da bondade natural e do amor. Vi coisa assim no brasileiro "Pixote", que faz parecer Jamal Malik, o protagonista da ìndia, um Pixote mais afortunado, com final feliz.
O filme trata, simultaneamente, com muitas denúncias e suspeitas, que elém de pano de fundo, são seu esteio:  o amor homem-mulher pode existir para além de experiências sexuais e das paixões transitórias; pode haver um destino pré-definido; o imperialismo colonial trucidou culturas, engolfando incompletamente povos dominados numa economia perversa; o consenso das gentes é um fato: Deus existe; entre outras.
Inúmeras demonstrações são dadas, a começar que vi uma Índia - distante do meu dia-a-dia - com tristeza de não enxergar castas e tradicionalismo.
Pincei outros exemplos do recheio:
Latika é o amor e a razão para Jamal transitar na vida;
O dinheiro é o grande redentor e Latika, feita então cortesã do mafioso Djevad, revela a Jamal, depois de sua observação de que todos assistem à porcaria do programa televisivo de auditório (que dá prêmios a acertadores de perguntas de conhecimento geral); ela diz: "O dinheiro é a saída (...)";
A educação escolar do oprimido aculturado é mal e imperfeitamente aplicada, pela imposição de, por exemplo "Os três mosqueteiros"... na Índia;
Jamal sabia da efígie de Benjamin Franklin na nota de 100 dólares e desconhecia a de Gandhi na cédula de mil rúpias;
Na iminência de receber o prêmio máximo, Jamal, transformado em celebridade, escapa à tentativa de engano do apresentador, que, aliás, o manda torturar e permanece impune;
O determinismo do teste de múltipla escolha de abertura: uma das questões é "está escrito". Com essa afirmação os vitoriosos amantes terminam o filme.
Para finalizar a listinha aqui - o que não esgota o tema - Salim, espiritualmente regenerado, após alvejar o mafioso e receber tiros de seus capangas, confessa: "Deus é Grande".
O filme é bonito e tocante sem ser piegas.
Confesso que chorei porque a saída com "final feliz" ainda é um grande remate para qualquer peça artística;  mais: é o anseio de todo mundo.

Paz!

      

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GRACIAS ANDINAS