domingo, 16 de janeiro de 2011

A tragédia do Rio é nossa

A vergonha só não é maior que a tristeza - a compaixão de todo o coração, sinal ainda de nossa humanidade, que nasce espontaneamente ante uma tragédia deste tamanho.
No dia 12 de janeiro choveu mais chuva que as encostas da região serrana do Rio de Janeiro e a hidrografia puderam suportar, arrasando as cidades de Teresópolis, Petrópolis e Nova Friburgo. Até agora contaram seiscentos mortos, milhares de desabrigados e um sem-número de desaparecidos.
Uma rede de solidariedade se formou incontinenti, pulverizada em todas as partes do país e das instituições.
Mas, lamentável – com o que nunca nos acostumaremos - é o efeito da desgraça sobre a ganância: logo os alimentos se apreçaram, os combustíveis e tudo tiveram ágio e, o mais grave, as pilhagens fizeram moradores alternarem-se na vigia de seus escombros, contra eventuais novas investidas da natureza, e para inibir os saques que logo ganharam vulto nas cidades assoladas.
Que indignidade! A calamidade, para uma corja de malditos, não significa senão oportunidade de obter vantagem econômica.
Autoridades e homens de boa vontade se sobrecarregaram com a atividade de detectar e prender os praticantes da vilania. Prendam esses canalhas, senhores!
Num esforço mínimo de empatia, sinto a angústia e o medo das vítimas, agora despojadas do equilíbrio e da aparente segurança de suas vidas; largadas na desolação do cenário de soterramento do mundo que conheciam, onde construíram suas moradas físicas e seu repouso espiritual; agora sós sem rumo e sem referência, esperando que o socorro os resgate do inferno e lhes preserve o mínimo de dignidade contra, inclusive, tais assaltantes.  
Importa discutir a gênese dessa fragilidade, neste momento? Sim, é sempre tempo, é sempre oportunidade de falar da grande farsa que representamos.
Atrás e além do espetáculo que a imprensa mostra, se esconde um homem social que não consegue viver em sociedade equilibrada e perene.
A região foi se povoando pela encostas, em lotes demarcados, legitimados e vendidos com anuência, conivência ou descaso das autoridades fundiárias, a despeito de qualquer sinalização de perigo que os operadores de tecnologias tivessem dado.
No amálgama de cores, raças e diferenças sociais, agora caliças do mesmo entulho, está soterrada a mentira de que queríamos viver em paz com todos. Queremos, sim, ter alguma propriedade para assentar os planos e destinos de nossa prole e dá-lhes alguma segurança para o futuro. Segurança que as políticas públicas não nos dão; nem esperamos mais!
Os tipos facínoras que saqueiam os destroços, abutres das desgraças, são os deseducados suscetíveis da nossa política de educação, que pensa cadeira escolar e patrocínio de carnavais como cultura determinante da formação de belos espíritos.
Esse tema rende – e não sou o mais indicado para debatê-lo; mas agora oro para que os sobreviventes da tragédia, e todos nós, possamos entender os livramentos graciosamente dados por Deus!
Aos sobreviventes peço que não desistam, continuem crendo em Deus! Ele os guiará para a reconstrução e seguimento de suas vidas. Oremos para que a misericórdia seja também com os que se foram. Amém!

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GRACIAS ANDINAS